quinta-feira, 19 de março de 2009

José e José


As igrejas abriam cedo naquela cidade, provavelmente para favorecer o pessoal que começava quase de madrugada a faina das longas jornadas.

Ainda cansado da noite mal dormida, o Zé entrou na igreja em que uma imagem do Menino Parecia Sorri-lhe afetuosamente. Tirou o boné, respeitosamente, e sentou-se acanhado bem perto do altar. Talvez de lá Deus o escutasse melhor, aliviasse logo seu peito pesado, enxugasse as lágrimas que estavam escondidas atrás dos olhos turvos. Ficou com vergonha de desfiar o rosário de queixas, afinal a vida era um presente bom; ficou sem jeito de fazer mais pedidos, afinal já deveria ter feito mais de um milhão. Ficou sentado sem nada dizer, afinal estava na casa de seu Pai.

Pensava o Zé na vida, quando um homem se sentou ao seu lado. Pediu licença e deu bom dia, mas o Zé fingiu que não era com ele. Em cidade pequena, todos se conhecem, mas ele não conhecia aquele homem. E ficou meio na defensiva. Só se aprumou quando o homem lhe perguntou se ele também era carpinteiro. Adivinhara pela bolsa que mal escondia o serrote.

Bom, eram colegas. E conversa vai e conversa vem, descobriu o Zé que tinham muitas coisas em comum: eram de cidades pequenas, de famílias boas, mas pobres, trabalhavam muito e ganhavam nem tanto. Eram casados e suas mulheres, coincidentemente, também Marias, eram maravilhosas e muito santas, sempre alegres e trabalhadeiras. E ambos tinham meninos que eram a fonte de toda a felicidade, mas que lhes davam grandes preocupações.

O filho do Zé era deficiente e sempre precisava da ajuda de alguém; o filho do outro sempre queria ajudar alguém, não parava quieto um só minuto.O Zé pensava no futuro do filho e o outro homem não ficava atrás.

O Zé teve de fugir da seca, o outro de um político cruel; o Zé morou debaixo da ponte, o outro também foi sem-teto; o filho do Zé nasceu num armazém abandonado, o do outro, numa estrebaria; o Zé não conseguiu voltar para sua cidade natal durante longos anos, o outro foi obrigado ao exílio.

De colegas viraram amigos e já falavam em confidências. O Zé gostava sim de rezar, o outro não conhecia coisa melhor. O Zé confessou que até já sonhara com Deus, o outro disse que sabia bem como era aquilo. O Zé falou para o outro que pedisse a Deus por ele e sua família, o outro disse que faria e que não deixaria nunca de protegê-los. O Zé se comoveu, o outro não menos.

O Zé foi para o serviço, o outro ficou a serviço. O dia correu com as horas mais leves por causa daquela conversa. E mesmo sem ter perguntado o nome do novo amigo, o Zé tinha quase certeza de que era o mesmo que o seu.


Frei Yves Terral


Neste dia de São José, pedimos sua intercessão para melhor ajudar a tantas famíias que passam por dificuldades!
Mostra-nos São José como ajudá-los!


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