segunda-feira, 23 de março de 2009

Formação : Os Sete Pecados Capitais : (5) A Ira



A maior lição que Jesus nos ensinou foi a de "amar o inimigo" (cf. Mt 5, 44). O mundo ensina que é preciso revidar, "não levar desaforo pra casa", ir a revanche, etc. Jesus, por outro lado, ensina a mansidão; isto é, "não pagar o mal com o mal", mas com o bem. O segredo cristão para destruir a força do inimigo, não é a vingança, mas o perdão. Jesus ensina que aí está um dos pontos da perfeição cristã. Ele quer que sejamos "perfeitos como o Pai celeste é perfeito" que manda a chuva e o sol para os bons e para os maus (Mt 5, 48). Ele morreu na cruz dolorosamente, dando o maior exemplo do que é perdoar. "Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem". (Lc 23, 31)

Jesus explica a razão desta exigência tão difícil: "Se amais somente os que vos amam, que recompensas tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos ?" (Mt 5, 46-47).

Perdoar aquele que o ofendeu é uma "prova de fogo" para verificar se de fato você é cristão.

É claro que não é fácil perdoar aquela pessoa que te magoou, aquele "amigo" que te traiu, aquele assassino do teu filho ou aquela mulher que seduziu o teu marido. Se fosse fácil, não teríamos mérito algum. E é preciso dizer que por nossas próprias forças não conseguiremos perdoar. É preciso a "força do alto" para vencer a fraqueza da nossa natureza ferida e que clama por vingança. Santo Agostinho ensina-nos que "o que é impossível à natureza, é possível à graça".

A única exigência que Deus nos impõe para perdoar os nossos pecados, quaisquer que sejam, é que estejamos dispostos a perdoar a todos os que nos ofenderam. "Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará" (Mt 6, 14-15). E no "Pai Nosso", Jesus acrescenta : "Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam". (Mt 6, 12)

O ódio e o desejo de vingança são armas do demônio para destruir a boa convivência dos filhos de Deus; por isso São Paulo ensina : "Não deis ocasião ao demônio; não se ponha o sol sob a vossa ira". (Ef 4, 26)



Prof. Felipe Aquino
Revista Canção Nova
Edição de Março de 2009 (pg. 11)

sexta-feira, 20 de março de 2009

Formação : Os Sete Pecados Capitais : (4) A Gula





Gula é comer além do necessário para se alimentar. Para alguns, o prazer de comer passou a ser um fim em si mesmo, esse é o erro. Se frustram quando a refeição não é "suculenta e variada". Escrevendo aos Filipenses, São Paulo se refere àqueles cujo "deus é o ventre" (Fil. 3, 19); isto é, o alimento. Se a Igreja nos aponta a gula como um vício capital, é porque ela gera outros males : preguiça, comodismo, paixões, doenças, etc. Podemos beber e comer com moderação e gosto, mas não podemos fazer da comida um meio só de prazer; isso desvirtua a alimentação.

Um corpo "pesado" debilita o espírito. Santo Agostinho dizia que temia não a impureza da comida, mas a do apetite. Ele escreveu uma página sábia sobre isto : "Vós me ensinastes a ingerir os alimentos como se tratasse de remédios". Santa Catarina de Sena dizia que o "estômago cheio prejudica a mente". Santo Ambrósio afirmava que : "Aquele que submete o seu próprio corpo e governa sua alma, sem deixar-se submergir pelas paixões é seu próprio senhor : pode ser chamado rei, porque é capaz de reger a sua própria pessoa". Ghandi afirmava que "a verdadeira felicidade é impossível sem verdadeira saúde, e a verdadeira saúde é impossível sem o rigoroso controle da gula. Todos os demais sentidos estarão automaticamente, sujeitos ao controle quando a gula estiver sob controle".


A virtude oposta à gula é a temperança : evitar todos os excessos no comer e no beber. Para destruir as raízes da gula é preciso submeter o corpo à mortificação. E esta haverá de ser sob a ação do Espírito Santo, nosso santificador. São Paulo ensinou aos Gálatas e aos Romanos que somente o Espírito pode destruir em nós as paixões. "Conduzi-vos pelo Espírito Santo e não satisfareis o desejo da carne" (Gál. 5, 16). " Se viverdes segundo a carne, morrereis, mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis" (Rom. 8, 12). A ação poderosa do Espírito Santo aliada à nossa vontade, vem em auxílio da nossa fraqueza e dá-nos a graça de superar os vícios.


Como remédio contra a gula a Igreja propõe também o jejum; não como um valor em si mesmo, mas como um instrumento para dominar a paixão. Mas Santa Catarina de Sena ensina que "a mortificação deve ser feita de acordo com a necessidade e na exata medida das forças pessoais". Não se pode impor a todos a mesma mortificação como uma norma rígida, já que nem todos são iguais.


Não é possível querer levar uma vida pura sem sacrifício. O corpo foi nos dado para servir e não para gozar; o prazer egoísta passa e deixa gosto de morte; o sacrifício gera a vida. Não foi à toa que Cristo jejuou quarenta dias no deserto da Judéia, antes de enfrentar as ciladas terríveis do Tentador, que o queria afastar do caminho traçado por Deus para Ele seguir, para salvar a humanidade.



Prof. Felipe Aquino
Revista Canção Nova
Edição de Fevereiro de 2009 (pág. 11)


quinta-feira, 19 de março de 2009

José e José


As igrejas abriam cedo naquela cidade, provavelmente para favorecer o pessoal que começava quase de madrugada a faina das longas jornadas.

Ainda cansado da noite mal dormida, o Zé entrou na igreja em que uma imagem do Menino Parecia Sorri-lhe afetuosamente. Tirou o boné, respeitosamente, e sentou-se acanhado bem perto do altar. Talvez de lá Deus o escutasse melhor, aliviasse logo seu peito pesado, enxugasse as lágrimas que estavam escondidas atrás dos olhos turvos. Ficou com vergonha de desfiar o rosário de queixas, afinal a vida era um presente bom; ficou sem jeito de fazer mais pedidos, afinal já deveria ter feito mais de um milhão. Ficou sentado sem nada dizer, afinal estava na casa de seu Pai.

Pensava o Zé na vida, quando um homem se sentou ao seu lado. Pediu licença e deu bom dia, mas o Zé fingiu que não era com ele. Em cidade pequena, todos se conhecem, mas ele não conhecia aquele homem. E ficou meio na defensiva. Só se aprumou quando o homem lhe perguntou se ele também era carpinteiro. Adivinhara pela bolsa que mal escondia o serrote.

Bom, eram colegas. E conversa vai e conversa vem, descobriu o Zé que tinham muitas coisas em comum: eram de cidades pequenas, de famílias boas, mas pobres, trabalhavam muito e ganhavam nem tanto. Eram casados e suas mulheres, coincidentemente, também Marias, eram maravilhosas e muito santas, sempre alegres e trabalhadeiras. E ambos tinham meninos que eram a fonte de toda a felicidade, mas que lhes davam grandes preocupações.

O filho do Zé era deficiente e sempre precisava da ajuda de alguém; o filho do outro sempre queria ajudar alguém, não parava quieto um só minuto.O Zé pensava no futuro do filho e o outro homem não ficava atrás.

O Zé teve de fugir da seca, o outro de um político cruel; o Zé morou debaixo da ponte, o outro também foi sem-teto; o filho do Zé nasceu num armazém abandonado, o do outro, numa estrebaria; o Zé não conseguiu voltar para sua cidade natal durante longos anos, o outro foi obrigado ao exílio.

De colegas viraram amigos e já falavam em confidências. O Zé gostava sim de rezar, o outro não conhecia coisa melhor. O Zé confessou que até já sonhara com Deus, o outro disse que sabia bem como era aquilo. O Zé falou para o outro que pedisse a Deus por ele e sua família, o outro disse que faria e que não deixaria nunca de protegê-los. O Zé se comoveu, o outro não menos.

O Zé foi para o serviço, o outro ficou a serviço. O dia correu com as horas mais leves por causa daquela conversa. E mesmo sem ter perguntado o nome do novo amigo, o Zé tinha quase certeza de que era o mesmo que o seu.


Frei Yves Terral


Neste dia de São José, pedimos sua intercessão para melhor ajudar a tantas famíias que passam por dificuldades!
Mostra-nos São José como ajudá-los!


sexta-feira, 13 de março de 2009

Formação : Os sete pecados capitais : (3) A Luxúria


A gravidade do pecado da impureza, também chamado de luxúria, é que mancha um membro de Cristo. "Ora vós sois o corpo de Cristo e cada um de sua parte, é um dos seus membros." (1 Cor 12, 27)

"Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo?" (1 Cor 6, 15)

"Tomarei, então, os membros de Cristo, e os farei membros de uma prostituta? Ou não sabeis que o que se ajunta a uma prostituta se torna um só corpo com ela? Está escrito: Os dois serão uma só carne (Gen 2, 24)". (1 Cor 6, 16)

Toda vez que eu peco, o meu pecado atinge todo o corpo de Cristo. De forma especial isto ocorre no pecado de impureza; o que levava São Paulo a pedir aos Coríntios, entre os quais havia este problema: "Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo". (1 Cor 6, 18)

São Paulo ensina que devemos dar glória a Deus com nosso corpo. "O corpo, porém, não é para impureza, mas para o Senhor e o Senhor para o corpo; Deus que ressuscitou o Senhor, também nos ressucitará a nós pelo seu poder". (1 Cor 6, 13). "Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo." (1 Cor 6, 20)

Nosso corpo está destinado a ressuscitar no último dia, glorioso com o corpo de Cristo ressuscitado. "Nós, porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso..." (Fil 3, 20)

Isto explica a importância do nosso corpo, que levava Paulo a dizer aos Coríntios: "Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado - e isto sois vós." (1 Cor 3, 16-17)

Jesus foi intransigente com o pecado da impureza. No Sermão da Montanha, Ele disse: "Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração." (Mt 5, 27-28). Jesus quer assim destruir a impureza na sua raiz; isto é no coração dos nossos pensamentos.

"Porque é do coração que provém os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias." (Mt 15,19)

Para viver a pureza há, então, que estarmos em alerta o tempo todo, como recomenda o Senhor: "vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca." (Mt 26, 41)

Todos nós já pudemos comprovar como é fraca a natureza humana, enfraquecida pelo pecado original.

Após o pecado de Adão não nos resta outro remédio: vigiar os nossos sentidos, pensamentos, olhares, gestos, palavras, atitudes, comportamentos, etc., e buscar na oração e nos sacramentos, o remédio e o alimento para vencer a nossa fraqueza.


Prof. Felipe Aquino
Revista Canção Nova
Edição de Janeiro de 2009 (pg 11)